Benditas as tempestades
A luz que conduz nas trevas
E alumia cadáveres que riem,
Tempestades armadas, despertadas
Pelo desnorte que rompe, irrompe
Do fundo dum estertor
Como choro de fera nascida,
Benditas as vítimas e os sobrevivos
A guerra, a lança, o escudo
Erguido contra as sombras
Na noite que reina de dia
No silêncio que esmaga o grito
Na paz imposta à dor
No jardim coroado de cinzas
Na promessa cravada no flanco,
Benditos a fé e o consolo
Trazidos pelos ventos que vão
Dados à costa na baixa-mar
Nos braços do luar escondido
Florindo em ramos quebrados,
Vinde tempestades que sois bem-vindas
Se convosco vierem guerreiros
A espada e um pouco de pão
O manto e um pouco de unguento,
Benditas as horas de luta
E os abraços dos inimigos
Entre as grades feridas de beijos.
LV